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domingo, 24 de julho de 2016

Voando pela Alitália: prós e contras.


Esta foi a primeira vez que voamos pela Alitália e a razão da escolha foi uma combinação de preços com ótimos horários para Berlim via Roma. Vou tentar lembrar o que é relevante e depois contar uma historinha.

1) Impossível fazer o registro no clube Millemiglia. Tentei dezenas de vezes ao longo de meses. Na quarta página sempre dá "erro de serviço". O atendente da Alitália disse que iria informar o setor responsável quando liguei para a companhia em fevereiro, e me tranquilizou de que poderia fazer a inscrição até quatro meses posteriores à compra. Imaginei que até lá corrigiriam o "bug" ou o que quer que seja. Ledo engano. Conversei sobre isto com dois passageiros,em Roma e em Berlim. Um disse que fez o registro normalmente no próprio pc e outro me disse ter passado pelo mesmo problema, sem solução.

2) Com três dias para a data da viagem a Alitália me manda um email avisando que o voo de 14h e 35min fora adiado para 17h e 25 min, e a nossa conexão Roma-Berlim adiada de 9h para 14h e 45 min. Passamos a ter um intervalo inútil de cerca de cinco horas em Fiumicino.

3) Quando comprei as passagens já fiz a opção de comida vegetariana e já escolhemos os lugares, com dezenas de opções (ponto para a Alitália). Mas no voo nos serviram comida onívora, eles disseram que eu esqueci de remarcar estas opções no check in, mas quando fazemos o check in não há, em momento algum, qualquer opção de refeição especial. Esta falha se verificou na volta.

 São os melhores headphones que usamos em companhias aéreas. e são recolhidos ao final como na British, e contrariamente à Iberia e TAP.


4) A Alitália agora pertence à Etihad, companhia dos Emirados Árabes. Mudaram o visual da tripulação, e é notório que as aeromoças foram treinadas para esbanjar simpatia e boa-vontade para com os aborrecimentos dos passageiros. Mas, pelo visto, as companhias aéreas (todas) continuam "desconhecendo" o Código de Defesa do Consumidor e mesmo o voo partindo do Brasil com maioria de passageiros brasileiros os idiomas existentes são o inglês e o nacional da companhia. Não há o menor esforço em tentar aprender pelo menos palavras como café, chá, suco de laranja, etc., para falar com os passageiros que não sabem nem inglês e nem italiano. Eu tive que tratar da questão das nossas refeições em inglês, o que é uma vergonha já que português e italiano são línguas latinas.



5) Como o meu segundo voo agora seria pela Air Berlin (boa por sinal, com excelente música ambiente, aeromoças espontaneamente simpáticas e um chocolate de brinde ao final) tive que correr atrás do boarding pass já em Fiumicino. A Alitália tem um guichê para atender problemas dos passageiros assim que chegam (mas em inglês ou italiano) e foram eficientes em resolver o nosso problema. Passamos as quase cinco horas no ótimo aeroporto, ir para Roma impossível em função de ter que aguardar determinado funcionário me entregar os boarding passes em determinados local e hora.


6) No check in online da volta não conseguia concluir o de Matilde nem no tablet e nem no smartphone e a página não reconhecia o meu email. Tive que procurar um internet cafe no meu bairro turco em Berlim, concluir e imprimir, depois de passar apreensão por dois dias e ainda assim recebi email da companhia de que eu deveria fazer o check in de minha namorada, ato que já estava perfeitamente concluído no dia anterior. No aeroporto o atendente veio me pedir os boarding passes. Como assim?!, cara pálida, na página dizia que eu teria que pegá-los no aeroporto não me foi dada opção de imprimi-los por minha conta, ou QR code, ou o que seja. Sem falar que também não tivemos refeições vegetarianas, como na ida para Roma.



7) Há monitor de bordo, mas o que é disponibilizado é tão ruim que eu nem vou perder tempo comentando. Parabéns à British e à Air France, um razoável para a TAP, um insuficiente para a Ibéria e um péssimo para a Alitália. Fiquei acompanhando o voo e tentando dormir, mas...

O voo não dura 11h e 25min como previsto, mas "apenas 10h e 30min. Sai atrasado e chega antecipadamente, para o comandante tirar onda com os passageiros de que foi mais rápido do que se espera.



Tentando dormir puxa uma historinha. Eu penso que: as pessoas têm o direito de falar o que bem entendem, sem violar os direitos alheios. Mas há assuntos que são obsessivos e particularmente enfadonhos quando outras pessoas precisam dormir.

Por volta das dez horas da noite, com o avião já perto da linha do Equador, observei a movimentação de um grupo de cristãos fundamentalistas que iriam todos para Israel via Roma. Beleza, não tenho nada com isto. Mas eis que um rico produtor rural do interior paulista, um homem de seus quarenta anos, com um corte de cabelo do Jim Carrey em Débi e Lóide, um jeito um tanto quadradão ou mesmo levemente perturbado, veio para o fundo do avião, sentou-se atrás de nós e passou a falar ininterruptamente por duas horas seguidas com um pastor de sua igreja:

a) reclamou, com bastante razão, do valor que estava pagando à agência de turismo de propriedade de um sacerdote de sua comunidade de fiéis, com um nome tipo Os caminhos do Senhor, especializada em roteiros cristãos. Nada menos que 95 mil reais por cinco dias em Israel!

b) disse que era a quinta vez seguida que visitaria Israel pois a cada vez que visitou este país Deus teria operado um determinado milagre em sua vida, e pôs-se a contar cada um deles minuciosamente;

c) passou a debater problemas internos de sua congregação e a dizer o que pensava de cada um de seus sacerdotes para o interlocutor que lhe ouvia pacientemente e não se opunha aos seus comentários.


d) contou todas as vezes que Deus lhe teria dado um tratamento favorável em detrimento de outras pessoas que não são fiéis como ele, inclusive um relacionado à compra de sementes de soja;

e) numa das poucas vezes que adotou um discurso racional, criticou os altos preços da Alitália, pois na primeira-classe, para a qual havia adquirido o bilhete, contava com apenas quatro passageiros. Mas, apesar disto, continuou o voo junto de nós, lá no fim do avião.

f) Houve um momento que eu vi que não poderia dormir - e nem suportar tamanhos delírios - e resolvi ficar na cozinha. E não è que às 3h e 30min havia um grupo de pessoas com as luzes acesas, uma bíblia aberta ao redor de um pastor celebrando um mini-culto?

 O nosso avião visto do ônibus da Alitália que leva até o terminal de desembarque.


Por que Berlim?


A escolha final de nosso destino segue algumas premissas iniciais e vai se concretizando mediante circunstâncias que fogem ao nosso controle. Em nenhuma de nossas seis viagens já sabíamos de antemão para onde iríamos, jamais colocamos algo do tipo: temos que ir para tal lugar e pronto, acabou.

Berlim era uma opção óbvia: capital do país mais rico da Europa, riquíssimo em História, pleno de opções, a curiosidade que eu tinha particularmente em constatar em que nível esta cidade se iguala ou mesmo supera Londres em matéria de densidade cultural. Soma-se a isto o fato de que minha filha lá ter visitado por dez dias no ano passado e falado maravilhas, e também pela razão de que as nossas últimas três viagens foram na Península Ibérica, eu queria um país mais ao norte, com clima temperado, poder andar o dia inteiro com temperaturas máximas inferiores a trinta graus.

Logo após a viagem à Barcelona, em julho do ano passado veio a hiper-desvalorização do real. Quando a libra chegou a seis reais e o euro próximo de cinco reais pensei: está na hora de cogitar uma viagem a Buenos Aires, Santiago, Montevidéu ou Bogotá. Meio que conformado, imaginando que o euro chegaria talvez a algo como dez reais, comecei a pesquisar a fundo as cidades citadas. E aí, constatei, frustrado, que a capital portenha não rende uma viagem de dez dias, não há o que fazer lá por tanto tempo dentro daquilo que é o nosso interesse.

O euro se acalmou em torno de quatro reais e cinquenta centavos, fiz os cálculos e vi que daria para ir à Europa sem maiores apertos ou sem chegar a um nível de custos acima do prazer amealhado.

Começamos trabalhando a hipótese de Budapeste, cidade linda e com aluguéis muito baratos (aluga-se um bom dois quartos na Airbnb por menos de cem reais a diária, preço final. Mas havia dois problemas: a língua quase intransponível e os preços dos voos da Lufthansa (as outras companhias me pareceram inviáveis, com voos muito longos).

O ano virou, nada de ofertas e eis que comecei a trabalhar outros destinos: Lyon, Nice, Roma, Milão, Trieste, Bruxelas, Porto, Rennes e, obviamente, Berlim. Chegou fevereiro e não dava para pensar muito mais. Roma tinha o problema dos caros aluguéis e minha dificuldade em aprender italiano. A TAP em momento algum fez promoções sérias. Ibéria mantendo a política especulativa do ano anterior e segurando as promoções. Lufthansa mantendo os voos para Berlim acima dos quatro mil reais. AirFrance em função dos atentados colocou preços convidativos inclusive para Paris. Pensei muito em ir para Lyon, mas Matilde não se sentiu atraída por lá, nem mesmo depois que vimos um vídeo de uma hora sobre a cidade.

De repente um velho sonho vem à tona: Helsinki, com voo da British (Londres), mas vendido no site da Ibéria, em reais e dez vezes sem juros, por cerca de 3100 reais. Trabalhamos esta ideia por duas semanas, quase fechamos negócio, mas eu ficava com dois pés atrás: o voo chegaria na capital finlandesa por volta de meia-noite e o retorno nós teríamos que pegar em Vantaa às sete da matina de volta a Londres. A outra razão era o aluguel caro. A língua não me intimida, porque todo mundo fala inglês por lá.

E eis que a careira das careiras, a Alitália, que sempre coloca os seus voos para Roma em julho na faixa dos sete mil reais, de uma hora para outra cai na realidade e inicia uma verdadeiramente competitiva ofensiva de preços: toda a Itália, Bruxelas, Viena, a França e outros destinos por pouco mais de dois mil reais. E foi assim que optamos por Berlim, com passagens a 2330 reais. 

Não precisamos levar muito tempo para tomar esta decisão.